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espelho, espelho meu

     no auge das minhas ilusões, noto que além de criar situações hipotéticas da realidade, estou sempre construindo versões minhas que não saíram do papel, variantes da minha personalidade que reagiriam diferente às coisas da vida, aceitariam propostas outrora ridículas, seriam possíveis vilões de BBB ou atletas regionais. por mais que essas versões nunca cheguem à vida real, hora e outra elas aparecem cá nos meus pensamentos pra dar um oi e dizer como as coisas aconteceriam nas suas dimensões e as possíveis consequências disso.     uma versão minha ganhou na mega-sena. não ganhou o prêmio, mas teve a sorte absurda de receber dinheiro fazendo o que gosta. num amistoso de vôlei despretensioso, um olheiro viu nesse variante (que é 5 centímetros mais alto) uma possível vitória na próxima liga nacional. depois de muito treino e muita bolada na cara, hoje ele acorda às 7 da manhã pra fazer natação. o funcionário do time deixa a refeição pronta junto com o copo de whey  pra ele fora da pisc

Perspectivas

  segui fielmente a profecia que eu mesmo me impus em sobre não calar o peito;  acreditei que meus textos estavam ligados proporcionalmente à minha vida amorosa e que por isso não escrevia. como se só soubesse falar sobre isso, não abria mais meu blog e achava que não tinha mais o que precisava pra me inspirar. ousei concluir que eu não sabia mais amar. por não me apaixonar por alguém, não me sentia mais capaz de escrever sobre as paixões diversas da vida. senti vários nãos na minha jornada, impostos por mim mesmo. eu ainda os sinto, cada vez que o medo bate e o conforto permanece. cada vez que o sentimento vem e o erro me assusta.   foi erro grave achar que o amor não existiu dentro de mim. outro foi impor que não amei cada segundo, minuto e hora que passaram durante minha vida toda. sim, o medo de errar me fez tirar conclusões precipitadas - errôneas - sobre as coisas. é claro que eu sinto falta do meu coração batendo mais forte por causa de um outro, mas é ingênuo da minha parte sup

Oferta

quanto custa para que só exista minha alma, uma áurea visível capaz de fazer tudo que eu já faço, sem a parte física da coisa? eu sinto que foco tão mais nessa parte. de sentir o que deve ser sentido, falar o que deve ser falado e olhar o que deve ser vislumbrado. quase que numa proporção 80/20, eu aprendi a dar muito mais atenção pra minha mente que pro meu corpo e mesmo assim as coisas não parecem estar melhorando. acontece que quando eu foco na introspecção, meu corpo e meu apê - que descobri que se trata de uma entidade que imita as condições do meu corpo - decaem, se decompõem e se destituem. logo, ver meus "corpos" em tão mau estado me faz mal e me ataca a ansiedade, que faz um trabalho impecável de sabotar todo o trabalho sendo feito internamente, ou seja, um loop desgraçado. isso significa que eu devo começar a tomar bomba? deixar o shape falar por mim? a real é que essa proporção anda errada; mais uma vez deixei a ansiedade tomar conta, os compromissos estressarem e

é papel seu ou impressão minha?

às vezes, me pego pensando no que as pessoas acham de mim. não de forma ansiosa, como quem pensa em definir a si com base nas opiniões dos outros, mas de forma curiosa, como quem obtivesse o poder de ler mentes por um breve instante. poder esse, específico, capaz de ler aquele exato pensamento em que meu nome é mencionado; o contexto, a opinião e a conclusão. penso se vale a pena descobrir o universo que eu não faço parte. descobrir o que acontece quando eu não posso olhar, quando eu não posso ouvir, quando eu não consigo saber. ouvir os "é, ele sempre foi assim", os "não adianta, do jeito que ele é" e os "tu sabe dele? ele é um". penso se isso me faria descobrir exatamente a impressão que eu causo. se a pessoa me achou engraçado porque pegou o timing perfeito da minha piada. se me achou lindo porque olhou pelo ângulo que eu faço questão de mostrar. se me achou simpático porque eu fiz questão de escutar. o que faz diferenciar a impressão de um causador com

Distância

é o que mais sinto nesse momento. achei que só a sentiria por morar sozinho, em outro bairro, longe de amigos, mas é diferente. é distância do que eu deveria estar sendo, do que eu queria pra mim mesmo. distância das minhas verdades. longe do que é aceitável; longe de aceitar que é muito peso pra mim. longe de acreditar que eu não poderia estar melhor. longe da realidade. quão longe terei que andar pra que as coisas façam sentido? pra que eu possa aceitar que "é ir longe demais" eu não estar feliz? imagino que objetivos loucos são esses que eu me esforço a alcançar, que nem eu mesmo sei? por que quero tanto correr, seguir em frente? o que eu to querendo deixar pra trás?... eu quero deixar isso pra trás? vamos negociar - quanto eu preciso percorrer pra esquecer? quanto pra diminuir a distância de entender que a vida já me passou na corrida? e eu lá estou pra trás? por que eu preciso diminuir o espaço - tu ocupou tanto assim? pensando bem, talvez o título devesse ser espaço de

Culpado

 sempre existe a procura pelo culpado da situação. não pode ter sido o destino que fez tu olhar pra ela, naquele dia, entre aqueles goles; foi o amigo que te puxou pra festa estranha. não é possível que tenha sido sorte o boy querer criar um grupo de aniversário surpresa e incluir todo mundo - até tu - pra que tu tenha o número dele e possa chamar um dia desses; deve ter sido ideia da louquinha da tua amiga, a única que sabia do teu crush. qualquer possibilidade do amor ser o culpado, ele é o último a ser escolhido. como formação de time da rua, o amor é o fraquinho, o de óculos, o amigo novo. o excluído dos filmes da disney, ninguém sabe que ele é o protagonista da história toda.   dado o pedestal que se encontra, ele é onipotente, mas não onipresente. não há interesse, até perceber que é dele que tu mais se aproveita na noite de sexta; tu pode até falar o nome dela com teu suor pingando, mas é só o amor exalando - como se tu desse os devidos créditos. como se precisássemos falar '

Caixinha de Som

 Sempre fui motivo de festa. Quando sentia aquela mão familiar pegando eu e meu carregador de jeito e colocando a gente no fundo da mochila de sempre, sabia que seria motivo de alegrias, danças e muita bebida. Sempre trouxe esperança e felicidade no rosto daquele moleque. Nunca vi alguém que estivesse tão disposto a trazer ambiente aos lugares que pareciam vazios. Mesmo tocando com volume baixinho, eu preenchia o que não existia, trazia o que ele esperava e respondia ao necessário. Fui indispensável, mesmo quando eu não era motivo da visita, mesmo quando o barulho maior vinha da cama e não de dentro de mim e eu só servia pra acompanhar. O ritmo era parecido com o que eu tocava, quase sincronizado. Eu nunca tinha tocado tal playlist antes. Pelo menos posso dizer que fui um amigo íntimo.   Infelizmente, não presenciei só coisas boas. Ele me usava até quando não queria sorrir, mesmo quando não havia motivos pra acreditar. Existe uma única lista de músicas que deixa ele pra baixo e eu sei