Culpado

 sempre existe a procura pelo culpado da situação. não pode ter sido o destino que fez tu olhar pra ela, naquele dia, entre aqueles goles; foi o amigo que te puxou pra festa estranha. não é possível que tenha sido sorte o boy querer criar um grupo de aniversário surpresa e incluir todo mundo - até tu - pra que tu tenha o número dele e possa chamar um dia desses; deve ter sido ideia da louquinha da tua amiga, a única que sabia do teu crush. qualquer possibilidade do amor ser o culpado, ele é o último a ser escolhido. como formação de time da rua, o amor é o fraquinho, o de óculos, o amigo novo. o excluído dos filmes da disney, ninguém sabe que ele é o protagonista da história toda.

  dado o pedestal que se encontra, ele é onipotente, mas não onipresente. não há interesse, até perceber que é dele que tu mais se aproveita na noite de sexta; tu pode até falar o nome dela com teu suor pingando, mas é só o amor exalando - como se tu desse os devidos créditos. como se precisássemos falar 'eu te amo' pra saber que o amor existe. como se um sorriso sincero não fosse o suficiente e lá se sabe o que se define por sorriso sincero - ninguém se preocupa em deixar de sorrir quando ele tá por perto.

  de acordo com o que uma cara amiga uma vez me disse, existe uma bússola que guia tuas ações para com os outros e isso é só tua versão do amor agindo, do fundo de tua alma. mas é complicado: se é por ele que tu arrisca, também é por ele que existe a hora de seguir em frente. e cada coisinha que dele a culpa pertence, nos mexe. cria história, momento, mais e menos amor. o potencial de se autodestruir e de se regenerar. não é fácil culpar ele porque é aceitar que foi por causa dele que tudo isso começou. e de onde vem essa vergonha de dizer que ele fazia parte do teu plano? ou vai dizer que as flores que tu pensou três vezes em comprar "voaram sozinhas pras mãos dela"?

  ok, talvez o acaso exista. ver o story dela sem saber que foi postado há trinta e seis segundos não é obsessão, faz parte. e talvez vocês tenham combinado de ir naquela balada com seus amigos e não sabiam que iam se encontrar. mas cada reaçãozinha a partir disso é tu. e ele é o culpado por isso tudo. culpado pelas desculpas mais genuínas, pelos abraços mais demorados, pelos reencontros mais incríveis. culpado pelos calafrios. pelos beijos. pelo sexo, pelo adeus.

  não existe advogado nessa hora. o amor admite a culpa na frente de todo mundo e não se arrepende. sem sentenças, ele não é preso. o júri chora com o veredito. até o martelo do juiz sabe que tá batendo pelo amor mais uma vez. existem testemunhas, é um caso fácil, não tem como defender. o que te impede de aceitar que ele faz parte do teu dia a dia, que é ele que te move?

 é por amor que a gente se estraga, mas é por ele também que a gente se renova. maldita contradição.

  

Comentários

  1. e como não ser culpado se eu recebi um e-mail avisando o novo post de janeiro, mas fui cair logo aqui, no texto sobre amor e lembrar dela enquanto lia?

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